"Os homens pensam que a epilepsia é divina meramente porque não a compreendem. Se eles denominassem divina qualquer coisa que não compreendem, não haveria fim para as coisas divinas." Hipócrates.

18 de dezembro de 2012

EPILEPSIA: O QUE É?


A epilepsia caracteriza-se, fundamentalmente, por uma desordem ou um distúrbio de ordem neurológica, que provoca uma série de sinalizações anormais no complexo neuronal, podendo desencadear crises moderadas ou agudas no indivíduo. Tal alteração, de caráter temporário e reversível, atinge o cérebro parcial ou totalmente. A funcionalidade cerebral é comprometida devido ao aumento da descarga elétrica sofrida pela rede neuronal e que, em casos de crises - os ataques epilépticos -, compromete as áreas sensoriais, cognitivas e motoras, respectivamente.


Apesar de haver uma quantidade considerável de estudos sobre a epilepsia na literatura médica, não existe um consenso sobre sua definição no meio científico. Muitos especialistas consideram a epilepsia uma doença, enquanto outros classificam-na como distúrbio cerebral ou condição neurológica crônica. Doença ou não, a epilepsia causa perturbações se se valida a tese de que o organismo, em sua totalidade, tem o seu funcionamento comprometido devido às convulsões causadas pelas descargas cerebrais anômalas. Neste sentido, é factível a sua classificação como doença. No entanto, a linha tênue, que divisa a desorganização neuronal da sua reorganização, no momento da crise, e após a passagem do ataque epiléptico, embasa o pensamento contrário, que não ratifica a epilepsia como doença, mas, sim, como um descontrole momentâneo, em nível neuronal, como se o cérebro recebesse uma tempestade elétrica, causada por fatores diversos, previsíveis ou imprevisíveis, segundo o tipo e o grau ora diagnosticados.


As convulsões que acometem o indivíduo, que se traduz, inequivocamente, pelo ataque epiléptico, são as descargas elétricas, em níveis acima do normal, e que são responsáveis pela perda de consciência total, durante a crise, pela falta de coordenação motora, que faz com que o indivíduo caia no chão e se debate, e pela alteração cognitiva, pois há casos em que os indivíduos, em estado de crise, verbalizem falas e situações de forma desconexa e incompreensível. Embora a visão de quem assista a um ataque epiléptico produza reações, que vão desde a fobia, passando pela repulsa, até ao estranhamento total, e que, muitas vezes, beira à inoperância, pois a maioria das pessoas não sabe lidar com um epiléptico em crise, em verdade, o ataque epiléptico, em termos visuais, é a consequência direta das descargas elétricas, que colocam o corpo do indivíduo em descontrole aliado à ausência de consciência, nos instantes em que aquele sofre a crise epiléptica.


O vocábulo EPILEPSIA vem do grego ἐπιληψίαcujo significado é surpresa; ser tomado por algo repentinamente. O termo é, também, traduzido por apreensão ou apreensões, pois expressava a visão helênica sobre esta condição neurológica, na Antiguidade Clássica. Para os gregos, o indivíduo era apreendido, de forma inesperada, por uma força que vinha do alto; uma energia divina, que somente poderia ser explicada como uma doença sagrada, pois aqueles acreditavam que o indivíduo, em estado de inconsciência profunda, era possuído por uma entidade superior, que o privava de seus sentidos, causando-lhe, por conseguinte, as quedas e as convulsões, simultaneamente. Embora os registros mais antigos sobre a epilepsia remontem aos sumérios e egípcios, há cerca de 3.000 atrás, foram os gregos que cunharam o termo e renovaram os estudos relacionados a este distúrbio neurológico, pois os povos antigos descreviam-no como uma manifestação de caráter essencialmente maligno. Hipócrates, o pai da medicina, por volta de 400 a. C, corrigiu o equívoco histórico, ao asseverar que a epilepsia não era uma possessão maligna, segundo as civilizações que precederam os gregos, mas, antes, seus escritos tratavam-na como afecções neurológicas, valorando o cérebro como epicentro da questão.


Finalmente, cabe esclarecer que uma pessoa acometida de epilepsia pode e deve ter uma vida normal como todas as outras. Um indivíduo comprovadamente epiléptico, portanto, não é inábil ou incapaz para exercer atividades, seja de que ordem for, no meio em que vive, parcial ou integralmente. O fato de o portador de epilepsia parecer diferente não implica em absolutamente nada, pois a sociedade, um verdadeiro guarda-chuva, que mantém e impõe regras e padrões a todos, não consegue perceber a exceção; e, neste sentido, impede qualquer possibilidade de alguém, que não esteja nos ditames preestabelecidos, de atuar em sua plenitude na sociedade, fomentando, consequentemente, a marginalização daquele. O verdadeiro estranhamento não está no epiléptico, em estado de crise, por exemplo, que o faz parecer diferente em relação àqueles que não têm epilepsia, mas, sim, no próprio grupo social, que não percebe que a discriminação e o preconceito são, com efeito, a grande diferença, que corrobora para que o ser humano, lamentavelmente, continue caminhando a passos lentos para uma verdadeira evolução física e espiritual.


O epiléptico, ao conviver com as próprias diferenças, abre suas janelas interiores e vislumbra o mundo com outras cores, outros matizes. A epilepsia é tratável; a discriminação e o preconceito também são tratáveis; a epilepsia é tratável; o medo e ignorância também são tratáveis. A epilepsia é tratada com drogas específicas e precisas. Os males da alma humana são tratados com mudança de atitudes, compreensão e consciência sobre o papel de cada qual em um mundo marcado por contradições.


É tempo de reconhecer que debaixo do sol todos são iguais; todos têm direito à vida e, também, à felicidade. É tempo de abraçar esta causa, pois epilepsia não é uma doença, mas o preconceito, a discriminação e o medo adoecem as pessoas e podem até matar.

Um comentário:

  1. gostei dos neurônios coloridos....dá um tom contemporâneo para o assunto.

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